Pessoas de sucesso reconhecem que não existem erros e, sim, resultados. Dessa maneira, podem aprender com eles e sabem que, para não colher os mesmos frutos, basta fazer diferente da próxima vez

Paulo Vieira

O autor na sua obra deve ser como Deus no universo, presente em toda parte, mas não visível em nenhuma

Gustave Flaubert


Veterinária

Cólica, o inimigo Nº 1 dos equinos - Parte II

Informe-se sobre um dos maiores incômodos da vida do equino e saiba como o tratamento precoce tem comprovada eficácia

01/06/2023 - 14:08 | Atualizado em 12/06/2023 - 08:44

Os equinos ingerem alimentos das formas mais variadas. A apreensão é feita pelos dentes incisivos e pela língua. A água é bebida por sucção e a trituração se dá pelos dentes pré-molares e molares, que umedecem a comida pela saliva, tornando-a passível de ser deglutida. Um animal de aproximadamente 400 quilos secreta diariamente até 40 litros de saliva. Tenha mais informações sobre a cólica, o tormento dos cavalos, sob a orientação técnica do Dr. Hélio Itapema, em matéria original do Portal InfoHorse, veículo de imprensa do jornalista e leiloeiro rural Marcelo Pardini, que esteve no ar até dezembro de 2018. O conteúdo é republicado na íntegra em Agro MP. Leia:

O suco gástrico é composto por água, substâncias orgânicas, ácido clorídrico livre e sais minerais, e é produzido o dia todo. Em 24 horas, o cavalo pode secretar cerca de 10 a 30 litros deste. O estômago do equino nunca se esvazia completamente, no entanto, em torno de 24 horas após a ingestão do alimento, ele deve estar quase vazio. Após o ingresso do quimo no duodeno ocorrem alguns eventos, dentre eles, a vasodilatação mesentérica, que se estende por 04 a 06 horas, com pico entre 30 e 90 minutos. Neste período, o animal não deve ser submetido a exercícios, pois o sangue desvia para os músculos, prejudicando a digestão. Para a manutenção das ondas peristálticas há a necessidade de valores mínimos de K+, além do equilíbrio de Na+ e Ca++. Isso pode explicar a inibição da motilidade normal quando o animal se encontra desidratado ou com desequilíbrio eletrolítico.

Alguns fatores inviabilizam o exame clínico, como o tamanho do cavalo e o baixo limiar de dor. Normalmente, o animal com cólica é mais sensível aos efeitos das endotoxinas, tendo como fator predisponente a laminite, e é sensível às perdas eletrolíticas. A auscultação intestinal é muito importante para que se possa avaliar a motilidade do intestino do paciente. “A palpação retal também é de suma importância e deve ser realizada por profissional experiente para diferenciação de quadro clínico ou cirúrgico na síndrome cólica. Temos que ter o devido cuidado para não romper o reto do animal com tal procedimento”, diz Hélio Itapema, titular da Clínica de Equinos Itapema.

Beto Negrão
Em 24 horas, o cavalo pode secretar cerca de 10 a 30 litros de suco gástrico

Cólica renal: um ponto interessante a ser observado é que 90% dos “práticos” assumem a conduta de usar medicamentos diuréticos para “curar” a cólica equina. “Em primeiro lugar, a cólica renal não é muito comum nos cavalos. Em segundo lugar, o uso de drogas diuréticas desidratará ainda mais o animal acometido, portanto, é totalmente contraindicado o uso dessas drogas em cavalos com cólica sem que os mesmos tenham sido minuciosamente avaliados pelo médico veterinário que irá tratá-los”, diz Dr. Hélio Itapema.

Sondagem nasogástrica: é o procedimento de maior importância no diagnóstico e no tratamento da cólica equina. Deve ser realizada toda vez que for diagnosticado o quadro. O profissional deve tomar alguns cuidados para não agravar ainda mais a situação, como aumentar o conteúdo no estômago ou causar pneumonia aspirativa por jogar líquido no pulmão do cavalo. O clínico deve ter material adequado e de boa qualidade para evitar lesões no esôfago ou sangramento nas narinas (epistaxe).

Paracentese abdominal: a coleta do líquido peritoneal é um procedimento de grande importância quando se necessita de mais de um prognóstico no quadro de cólica. “Ela nos auxilia a demonstrar o grau de sofrimento das alças no momento em que é realizada. Após a coleta, devemos observar a aparência do líquido, que pode estar amarelo translúcido - normal; amarelo com turbidez - proteína ou celularidade; amarelo floculento - presença de fibrina; róseo - hemorragia, e verde 'amarronzado' - presença de conteúdo intestinal”.

Tipos de cólicas
As cólicas podem ser divididas em três formas: processo não obstrutivo, processo obstrutivo não estrangulativo e processo obstrutivo estrangulativo. Cada uma tem as suas variações:
1. Processo não obstrutivo - quadro que não causou obstrução, entre eles, dilatação gástrica - gasosa, por líquidos ou por alimentação excessiva, e espasmo intestinal - na auscultação os sons estão aumentados, em frequência e força.
2. Processo obstrutivo não estrangulativo - obstruem a luz intestinal sem que haja estrangulamento de alças, tais quais, enterite anterior - também conhecida como duodeno jejunite, ocorrendo pela inflamação no duodeno e no jejuno por bactérias como Clostridium SP, e íleus - normalmente ocorrem em animais que foram submetidos à laparotomias devido à manipulação das alças, podendo ocorrer também de forma primária sem etologia explicada. Pode-se notar atonia; impactação - muito comum no intestino delgado pela passagem de alimento mal digerido pelo estômago e no intestino grosso pela alteração no diâmetro da luz intestinal; sablose - a areia que é ingerida pelo animal tende a se acumular no ceco e no cólon maior, o que irrita a mucosa, fazendo com que o caso progrida para a colite; enterólito - formações minerais produzidas na luz intestinal pela aglutinação de matérias minerais, gases e fezes, que se unem formando estruturas pétreas e retenção de mecônio (as primeiras fezes do recém-nascido, que sem aporte suficiente de colostro podem ter dificuldade na saída).
3. Processo obstrutivo estrangulativo - obstrução da luz vascular de um determinado segmento intestinal. Quando os vasos são obstruídos é comum que a luz intestinal também o seja. Podem ocorrer quando há vólvulos, torções e intussuscepções, que geralmente acontecem no intestino delgado devido à fraca fixação (realizada apenas pelo mesentério). No cólon maior há incidência de deslocamentos e encarceramentos.

Profilaxia
Ainda hoje, com toda a evolução da Medicina Veterinária, consideramos a prevenção como melhor forma de controlar a síndrome cólica. Esta pode ser feita com medidas que visam a acabar com os fatores predisponentes:
- Alimentação: dar ao cavalo a quantidade de concentrado ideal, dividido em pelo menos três vezes ao dia, e fornecer quantidade suficiente de verde.
- Exercício: os animais não podem ser mantidos estabulados por muito tempo. A falta de exercício ocasiona estresse, culminando em úlceras e gastrite. O cavalo só deve ser submetido ao exercício após 60 minutos da ingestão de ração.
- Controle parasitário: é importante que haja controle bimestral de parasitas, com acompanhamento veterinário.
- Higiene ambiental e alimentar: devemos tomar especial cuidado com a alimentação dos cavalos, observando todos os aspectos de higiene com os produtos por ele ingeridos.
- Manutenção dentária: vários casos de cólica são causados por problemas de má digestão. Controle semestral da cavidade oral é importante para a saúde do cavalo.

Na Parte I, abordamos a síndrome cólica de maneira bem elucidativa (https://agromp.com.br/post/colica-o-inimigo-no-1-dos-equinos-parte-i). Conteúdo de alta qualidade a galope é na Agro MP - A voz do Agronegócio!